A Revista Ritmo nasceu da parceria entre o Theatro Municipal do Rio de Janeiro (TMRJ) e a Escola Livre de Direito, Filosofia e Arte, projeto de extensão vinculado ao Programa de Pós-graduação em Direito, da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (PPGD/UERJ). Ambas as instituições possuem o intuito de contribuir com a promoção, difusão e, principalmente, com o incentivo à pesquisa e à produção sobre temas ainda pouco pesquisados, relacionados aos papeis integrador e catalisador desempenhados pelo Theatro Municipal na cultura carioca, fluminense e nacional. Estimulamos a produção e divulgação de pesquisas nos mais variados eixos das ciências, da cultura e das artes. Agora na segunda chamada, dedicada ao tema Moda, Figurino e o Theatro Municipal, queremos explorar como a muitas vezes sutil linguagem da moda transformou o Theatro Municipal do Rio de Janeiro no espaço público principal para debates entre democratização e distinção, seja em cima do palco, seja na plateia, um palco por si só.
Proposta:
“moda é um dispositivo social, portanto o comportamento orientado pela moda é fenômeno do comportamento humano generalizado e está presente na sua interação com o mundo”
(MIRANDA, 2001)
“[…] l’idée de mode est antipathique à l’idée de sainteté”
(Roland Barthes, Mythologies)
A construção da memória individual, social e coletiva atravessa a moda, essa linguagem que, desde o alvorecer da era democrática, se tornou a principal forma de comunicação das distinções sociais, substituindo os métodos mais tradicionais e ostensivos que outrora demarcavam a linha entre os estabelecidos e os marginalizados. Como linguagem, além de topos de conflito, a moda é composta de signos que compõem, quando percebidos de forma a abranger seu potencial totalizante, um sistema que constrói e é construído por todos nós. A memória aqui excede o campo humano e se prende aos objetos, que se tornam souvenires, não só dos conflitos sociais e ideais de cada época, constituindo uma indicação de como as pessoas se viam nas estruturas sociais, mas, com a sua potência de futuros não vividos, futuros ainda possíveis entrelaçados na trama do passado.
O Theatro Municipal do Rio de Janeiro é, desde sua fundação — há 115 anos —, uma instituição da cultura carioca, fluminense e nacional. Mais do que um equipamento cultural, social e político-administrativo, o Theatro é o espaço do imaginário, tanto aquele permeado pelas imagens de conceito de uma civilização dos trópicos, quanto o imaginário dos artistas. Assim, ele é espaço público em duas frentes: onde todas as suas nuances sutis que permitem a implosão desses rígidos conceitos e a emergência de uma realidade toda própria da nossa experiência; existindo também uma fantasia artística, onde todas as idiossincrasias são recompostas em conjunto por autores, atores, cantores, instrumentistas, bailarinos, público e quem mais se dispuser a fazê-lo em uma intensidade extravagante.
Sobre o palco, os figurinos, os trajes de cena, que permitem ao bom leitor o entendimento da realidade na fantasia. Na plateia, os trajes que servem de instrumento para a equalização e para a distinção, reforçadas ambas pela legislação, que estimula as sensibilidades para perceber as desigualdades que a lei busca ocultar, uma projeção fantástica sobre a realidade. Sobre todos eles, as sutis moléculas da memória, cada trama de tecido uma história individual e coletiva. O Theatro Municipal do Rio de Janeiro é um relicário para todas essas memórias.
Dentro desse relicário encontramos lembranças que nos trazem vívidas memórias: a concepção da cenografia e os estudos de figurino da produção de Madame Butterfly em 1983, feitos por Tomie Othake; as fantasias dos bailes de gala do Theatro Municipal que eram idealizadas por figuras marcantes do mundo da moda e do Carnaval, como Clóvis Bornay, Evandro de Castro Lima, Rosa Magalhães, Mauro Rosas, Alceu Penna; os figurinos do ballet “Gabriela”, baseado na obra de Jorge Amado, idealizados por Carybé, também de 1983; um quimono, confeccionado a partir de tecelagem japonesa original, que pertenceu a soprano Tamaki Miura, doado pela Embaixatriz do Japão no Brasil, Yoshiko Kimitsuka; o traje utilizado por Mercedes Batista, a primeira bailarina negra que se apresentou em um Teatro Municipal no Brasil, no ballet Congo; e itens da dança folclórica afro-brasileira até a realização do inédito ballet Macunaíma, onde foram realizados figurinos e cenários oriundos de materiais reciclados e a linguagem do Grafite.
Queremos estimular pesquisadores a vir lembrar conosco dessas histórias, imaginar passados, presentes e futuros distintos, táteis, disponíveis ao uso. Por isso, estimula-se a submissão de artigos que explorem as interseções entre a Moda, em seu aspecto sociológico, normativo, prático-técnico e semiótico-estrutural, os figurinos e trajes de cena, em seus aspectos narrativos, imagético, fantásticos e poéticos, mas também históricos, sociológicos, prático-técnicos etc, e o Theatro Municipal do Rio de Janeiro enquanto albergue dessas potências e materialidades que se expressam no tecido (e na sua ausência). Buscamos especialmente, mas não só, artigos que tratem de:
Figurinos de importância histórica;
Estilistas que tenham contribuído com as atividades do Theatro Municipal do Rio de Janeiro e a relação desta contribuição com a sua obra, anterior e posterior;
Reflexões teóricas que partam de material disponível no acervo do Theatro Municipal, em especial relacionadas ao potencial mnemônico e de representação cultural dos artefatos de moda, figurinos ou trajes socialmente aceitos;
Práticas de produção de figurinos;
Relação entre os figurinos e as narrativas nas quais eles são encarnados;
Relação entre os figurinos, as narrativas nas quais eles são encarnados e a sociedade que compõem esses figurinos e essas narrativas;
O caráter narrativo, imagético e funcional dos figurinos;
Como os figurinos e os trajes de cena inspiram a haute couture;
Surrealismo e haute couture (em memória dos cem anos do Manifesto Surrealista);
A teatralidade do espaço público e o Theatro Municipal como espaço público a partir da materialidade das vestimentas;
A RITMO – Revista Interdisciplinar do Theatro Municipal do Rio de Janeiro é um espaço criado pela Fundação Teatro Municipal do Rio de Janeiro e pela Escola Livre de Direito, Arte e Filosofia, projeto de extensão da Universidade do Estado do Rio de Janeiro, para permitir que a interlocução entre o Theatro Municipal do Rio de Janeiro e a sociedade civil se mantenha entre os espetáculos. Fruto do entendimento de que as vocações que se realizam no palco do Theatro Municipal não se restringem a ele, a RITMO tem como objetivo ampliar as discussões que emergem da percepção do papel central que o Theatro, tanto no exercício dos seus misteres, quanto com a sua mera presença física, exerce na cultura carioca e brasileira.
Portanto, revista de reflexão do Theatro, enquanto instituição, acerca de si mesmo, mas também revista acadêmica. Comprometida com os valores motrizes da academia – transparência, abertura, publicidade e temperança – a RITMO fará chamadas semestrais para a proposição de artigos com temas específicos, relevantes para elaboração e criação de novos imaginários, que permitam a reelaboração da relação entre a instituição pública e seu público, a sociedade, em novos parâmetros. Coordenando essas chamadas, teremos autores aptos a estimular o debate e, mais do que meramente promover esses encontros, torná-los possíveis para além da própria revista, transformando-a em uma polinizadora de afetos artísticos e políticos. Continuando a trajetória que o Theatro tem percorrido nos últimos anos, a RITMO assume para si a tarefa de democratizar as artes praticadas no Theatro.
EDITORES
Clara Maria Paulino Cáo
Formada em História pela Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro, Clara Paulino possui experiência na área de Patrimônio Cultural e Museus e é especialista em Administração Pública. Exerceu entre 2008 e 2012 a função de assessora de Patrimônio Cultural e Projetos da Fundação Municipal de Cultura e Lazer de Quissamã. Neste mesmo período acumulou a função de diretora do Centro Cultural Sobradinho. Atuou entre os anos de 2013 e 2016 como chefe de Gabinete da Superintendência do IPHAN no Rio de Janeiro. Foi superintendente de Museus da Secretaria Estadual de Cultura e presidente da Fundação Museu da Imagem e do Som (MIS) entre 2016 e 2019. Clara Paulino é presidente da Fundação Teatro Municipal desde 2019.
Alexandre Fabiano Mendes
Professor Associado da Faculdade de Direito da Universidade do Estado do Rio de Janeiro – UERJ. Professor do Programa de Pós-Graduação em Direito da UERJ na linha de Teoria e Filosofia do Direito, desde 2014. Coordena o Projeto de Extensão Escola Livre de Direito, Arte e Filosofia (UERJ) e o Grupo de Pesquisa Direito, Pragmatismos e Filosofia (UERJ/CNPq).
EDITORES EXECUTIVOS
Guilherme Alfradique Klausner
Mestre e Doutor em Teoria e Filosofia do Direito pelo Programa de Pós-Graduação em Direito na Faculdade de Direito da Universidade do Estado do Rio de Janeiro. Especialista em Direito para a Carreira da Magistratura do Estado do Rio de Janeiro pela Escola da Magistratura do Estado do Rio de Janeiro. Bacharel em Direito pela Universidade Federal Fluminense. Pesquisador do Grupo de Pesquisa Direito, Pragmatismos e Filosofia (UERJ/CNPq). Advogado e Assessor-Chefe da Assessoria Jurídica da Fundação Teatro Municipal do Rio de Janeiro.
Beatriz Costa da Silva
Mestre em Design pela Escola de Belas Artes da UFRJ/EBA, MBA em Marketing, Branding e Growth pela PUC-RS. Pós-graduada em Editoração Mercado do Livro pelo Instituto de Pesquisa do Rio de Janeiro IUPERJ. Graduada em Design pela Unicarioca e Técnica em Produção Audiovisual pela FAETEC. Atualmente, professora universitária, pesquisadora pela UFRJ e pela Universidad de Palermo (Argentina) e Assessora da Presidência do Theatro Municipal do Rio de Janeiro.
Bernardo de Moura Tebaldi
Mestre em Direito Internacional pelo Programa de Pós-Graduação em Direito na Faculdade de Direito da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ). Pós-graduado em Relações Internacionais pela Fundação Getúlio Vargas (FGV). Bacharel em Direito pela Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (UNIRIO). Pesquisador do Núcleo de Estudos e Pesquisa em Direito Internacional (NEPEDI/UERJ). Advogado e Assessor da Assessoria Jurídica da Fundação Teatro Municipal do Rio de Janeiro.
Roberta Rayza Silva de Mendonça
Doutoranda em Direito – Universidade do Estado do Rio de Janeiro. Mestra em Direitos Humanos – Universidade Federal de Pernambuco. Especialista em Direitos Humanos: Educação e Ressocialização – Universidade Cândido Mendes. Graduada em Direito pelo Centro Universitário do Vale do Ipojuca. Membra associada da Rede Brasileira de Educação em Direitos Humanos (ReBEDH). Pesquisadora do Grupo do Direito, Pragmatismo(s) e Filosofia (UERJ/CNPq). Pesquisadora do G-pense! – Grupo de Pesquisa sobre Contemporaneidade, Subjetividades e Novas Epistemologias (UPE/CNPq).
15/07/2024 – 14/09/2024
Dossiê – Moda, Figurino e o Theatro Municipal do Rio de Janeiro
Submissões através do email: ritmo.tmrj@gmail.com
CHAMADA PARA AVALIADORES AD HOC