Por Paulo Melgaço, Larissa Ruther, Lidiane Moço e Matheus Freitas
ISSN 2965-9817
A Revista Ritmo nasceu da parceria entre o Theatro Municipal do Rio de Janeiro (TMRJ) e a Escola Livre de Direito, Filosofia e Arte, projeto de extensão vinculado ao Programa de Pós-graduação em Direito, da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (PPGD/UERJ). Ambas as instituições possuem o intuito de contribuir com a promoção, difusão e, principalmente, com o incentivo à pesquisa e à produção sobre temas ainda pouco pesquisados, relacionados aos papéis integrador e catalisador desempenhados pelo Theatro Municipal na cultura carioca, fluminense e nacional. Estimulamos a produção e divulgação de pesquisas nos mais variados eixos das ciências, da cultura e das artes. Agora na terceira chamada, dedicada ao tema Theatro Municipal sob a perspectiva negra, queremos trazer à tona questões raciais dentro do espaço do Theatro Municipal, bem como produções e comportamentos voltados à pauta racial.
Proposta:
O racismo no Brasil se caracteriza pela covardia. Ele não se assume e, por isso, não tem culpa nem autocrítica. Costumam descrevê-lo como sutil, mas isto é um equívoco. Ele não é nada sutil, pelo contrário, para quem não quer se iludir ele fica escancarado ao olhar mais casual e superficial (Nascimento, 2013).
O Theatro Municipal do Rio de Janeiro foi criado com o intuito de ser a principal casa de espetáculos líricos e sinfônicos do Brasil, oferecendo um espaço adequado para óperas, concertos e apresentações artísticas de alto nível, à altura das grandes capitais europeias. A cultura erudita era reservada a um público que pertencia a um grupo social específico e essa lógica excludente se estendia também à participação nos palcos. Durante décadas, as produções do Theatro Municipal não contaram com a presença de artistas negros, reforçando um padrão estético eurocêntrico. A ausência de pessoas negras nas apresentações estava em sintonia com um projeto cultural que, apesar de ocorrer em um país de maioria afrodescendente, invisibilizava essa população no campo das artes eruditas. As reformas urbanas de Pereira Passos, então prefeito do Rio, na época capital do Brasil, reforçaram esse momento em que o Brasil buscava se consolidar como uma nação progressista.
Outro aspecto que revela as contradições sociais da época é a composição da mão de obra na construção do Theatro. Grande parte dos operários que ergueram o imponente edifício era formada por trabalhadores brasileiros pobres, muitos deles negros e descendentes diretos de escravizados, apenas vinte anos após a Abolição. Esses homens executaram serviços pesados, como escavações, alvenaria e transporte de materiais, sem qualquer possibilidade de frequentar o espaço como público. Enquanto construíam um símbolo de luxo e sofisticação voltado para a elite branca, permaneciam excluídos das práticas culturais legitimadas pelo Estado. Esse contraste evidencia como a modernização urbana e cultural do Rio de Janeiro reproduziu desigualdades estruturais, utilizando o trabalho negro para erguer um projeto de “civilização” que negava a própria presença negra.
Essa realidade começou a mudar somente a partir da década de 1940, com a atuação do Teatro Experimental do Negro (TEN), fundado em 1944 pelo ator e economista, Abdias do Nascimento (1914-2011). O TEN surgiu com a proposta de combater o racismo no meio artístico e abrir espaço para atores negros, oferecendo formação teatral e promovendo encenações que valorizassem a identidade afro-brasileira. Esse acontecimento representou não apenas uma conquista simbólica, mas também um passo fundamental para a inserção da população negra nas artes cênicas brasileiras. Outro momento significativo ocorreu em 1956, com a montagem de “Orfeu da Conceição”, peça de Vinicius de Moraes com música de Tom Jobim, encenada também no Theatro Municipal com um elenco negro. Essas produções abriram caminho para uma reflexão mais profunda sobre a representatividade no teatro brasileiro.
Assim como outros espaços da mesma época das reformas da Belle Époque Tropical, a história do Theatro Municipal do Rio de Janeiro reflete as contradições da sociedade brasileira, com suas disputas e transformações, por isso é esperado especialmente, mas não somente, propostas que tratem de:
O protagonismo negro através de: Abdias do Nascimento; Ruth de Souza; Léa Garcia; Mercedes Baptista; João do Rio; Pixinguinha; Os Oito Batutas; Chiquinha Gonzaga; entre outros.
Teatro Experimental do Negro e a relação com o Theatro Municipal.
O Theatro Municipal como ferramenta antirracista no cenário artístico.
O apagamento de artistas negros na história dos teatros, casas de espetáculo e instituições culturais.
Memória e ancestralidade no Theatro Municipal.
A visibilidade negra no corpo artístico do Theatro Municpal: a primeira vez que atores negros se apresentaram no Theatro Municipal, em 1945, com a peça O Imperador Jones.
Intervenções artísticas negras no Theatro Municipal na contemporaneidade.
O processo controverso de construção do Theatro Municipal. (erguido por mãos negras, mas frequentada pela elite branca).
Antigos estereótipos das representações negras nos corpos artísticos.
O Theatro Municipal sob a perspectiva do corpo negro.
Democratização do acesso do negro periférico a espaços de poder.
Também serão considerados para publicação artigos que tratem de arte e cultura de forma não relacionada ao tema do dossiê, mas preferencialmente vinculados ao Theatro Municipal do Rio de Janeiro.
Lançamento do Edital: 18/09/2025
Encerramento do Edital: 15/12/2025
Confira as normas para submissão de artigos AQUI
Formulário para submissão de artigos
REFERÊNCIAS
INSTITUTO DE PESQUISAS E ESTUDOS AFRO-BRASILEIROS. Rio de Janeiro, Ipeafro. Disponível em: https://ipeafro.org.br/. Acesso em: 18 ago. 2025.
NASCIMENTO, Abdias. “O racismo fica escancarado ao olhar mais superficial”, entrevista Abdias Nascimento. Geledés, [s.l.], 22 nov. 2013. Disponível em: https://www.geledes.org.br/o-racismo-fica-escancarado-ao-olhar-mais-superficial-entrevista-abdias-nascimento/ Acesso em: 20 ago. 2025.
NASCIMENTO, Abdias do. Teatro experimental do negro: trajetória e reflexões. Estudos Avançados, [s.l.], v. 18, n. 50, p. 209-224, abr. 2004.
RAMOS, Giovanne. Teatro Experimental do Negro completa 80 anos com programação especial no Rio de Janeiro. Alma Preta, [s.l.], 9 out. 2024. Disponível em: https://almapreta.com.br/sessao/cultura/teatro-experimental-do-negro-completa-80-anos-com-programacao-especial-no-rio-de-janeiro/?gad_source=1&gad_campaignid=22546923003&gbraid=0AAAAAqda5pwkCgVDazRU7-S4r9h2-dn-v&gclid=CjwKCAjwsZPDBhBWEiwADuO6y6oJ9meKAbl3axYuUb3gKUKdQPw3v6sgUiH5RK-nueWlU2MehP8_cBoCtoAQAvD_BwE
SILVA JUNIOR, Paulo Melgaço; MELGAÇO, Matheus. Palco (in)visível: os corpos negros no Theatro Municipal. In: FIGUEIRA, Arlene da Fonseca; WILD, Bianca de Moura; ARAUJO, Helio Rosa de; SILVA, Rosilaine Souza de Araujo da (org.). Conexões, asas e raízes: ancestralidade, representatividade e resistência. Rio de Janeiro: Even 3 Publicações, 2019. p. 142-162.
THEATRO MUNICIPAL. Centro de Documentação da Fundação Theatro Municipal do Rio de Janeiro – CEDOC/FTMRJ.
EDITORES
Clara Maria Paulino Cáo
Formada em História pela Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro, Clara Paulino possui experiência na área de Patrimônio Cultural e Museus e é especialista em Administração Pública. Exerceu entre 2008 e 2012 a função de assessora de Patrimônio Cultural e Projetos da Fundação Municipal de Cultura e Lazer de Quissamã. Neste mesmo período acumulou a função de diretora do Centro Cultural Sobradinho. Atuou entre os anos de 2013 e 2016 como chefe de Gabinete da Superintendência do IPHAN no Rio de Janeiro. Foi superintendente de Museus da Secretaria Estadual de Cultura e presidente da Fundação Museu da Imagem e do Som (MIS) entre 2016 e 2019. Clara Paulino é presidente da Fundação Teatro Municipal desde 2019.
Alexandre Fabiano Mendes
Professor Associado da Faculdade de Direito da Universidade do Estado do Rio de Janeiro – UERJ. Professor do Programa de Pós-Graduação em Direito da UERJ na linha de Teoria e Filosofia do Direito, desde 2014. Doutor em Direito pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro – UERJ (2012). Mestre em Criminologia e Direito Penal pela Universidade Cândido Mendes (2007). Pós-Doutor em Filosofia pela Université Paris-Ouest Nanterre la Défense, Paris – França (2018). Possui graduação em Direito pela Faculdade de Direito da Universidade do Estado do Rio de Janeiro – UERJ (2004). Bolsista do Programa Prociência (UERJ). Coordena os projetos de extensão Escola Livre de Direito, Arte e Filosofia e Revista Interdisciplinar do Theatro Municipal do Rio de Janeiro (RITMO). Co-editor da Revista Jurisprudence Critique (USMB/França). Membro da Rede Brasileira de Direito e Literatura (RDL). Foi Defensor Público do Estado do Rio de Janeiro, entre 2006 e 2011.
COORDENADORA EXECUTIVA
Marta Maria Crespo Rodriguez
Pós-doutoranda em Teoria e Filosofia do Direito pelo Programa de Pós-Graduação em Direito da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ). Doutora em Literatura Comparada e mestra em Literatura Brasileira pela UERJ. Integrante do Grupo de Pesquisa Direito, Pragmatismo(s) e Filosofia (UERJ/CNPq). Servidora do Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro (TJRJ), onde atua como chefe do Serviço de Normalização do Departamento de Biblioteca e Publicações da Escola da Magistratura do Estado do Rio de Janeiro (EMERJ).
EDITORES EXECUTIVOS
Guilherme Alfradique Klausner
Mestre e Doutor em Teoria e Filosofia do Direito pelo Programa de Pós-Graduação em Direito na Faculdade de Direito da Universidade do Estado do Rio de Janeiro. Especialista em Direito para a Carreira da Magistratura do Estado do Rio de Janeiro pela Escola da Magistratura do Estado do Rio de Janeiro. Bacharel em Direito pela Universidade Federal Fluminense. Pesquisador do Grupo de Pesquisa Direito, Pragmatismos e Filosofia (UERJ/CNPq). Advogado e Assessor-Chefe da Assessoria Jurídica da Fundação Teatro Municipal do Rio de Janeiro.
Bernardo de Moura Tebaldi
Mestre em Direito Internacional pelo Programa de Pós-Graduação em Direito na Faculdade de Direito da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ). Pós-graduado em Relações Internacionais pela Fundação Getúlio Vargas (FGV). Bacharel em Direito pela Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (UNIRIO). Pesquisador do Núcleo de Estudos e Pesquisa em Direito Internacional (NEPEDI/UERJ). Advogado e Assessor de Relações Internacionais da Fundação Teatro Municipal do Rio de Janeiro.
Roberta Rayza Silva de Mendonça
Doutoranda em Direito – Universidade do Estado do Rio de Janeiro. Mestra em Direitos Humanos – Universidade Federal de Pernambuco. Especialista em Direitos Humanos: Educação e Ressocialização – Universidade Cândido Mendes. Graduada em Direito pelo Centro Universitário do Vale do Ipojuca. Membra associada da Rede Brasileira de Educação em Direitos Humanos (ReBEDH). Pesquisadora do Grupo do Direito, Pragmatismo(s) e Filosofia (UERJ/CNPq). Pesquisadora do G-pense! – Grupo de Pesquisa sobre Contemporaneidade, Subjetividades e Novas Epistemologias (UPE/CNPq).
Luiz Teves
Pós-doutorando em Teoria e Filosofia do Direito pelo Programa de Pós-Graduação em Direito da Universidade do Estado do Rio de Janeiro – UERJ. Doutor (2022) e Mestre (2016) em Teoria e Filosofia do Direito pela UERJ. Graduado em Direito pela Universidade Federal do Rio de Janeiro – UFRJ (2013). Professor da Faculdade de Direito do Centro Universitário Augusto Motta (UNISUAM). É membro do corpo editorial e revisor da Revista Lugar Comum: Estudos de Mídia, Cultura e Democracia (ISSN 1415-8604) e da Revista Ritmo (ISSN 2965-9817). É membro da Rede Brasileira de Direito e Literatura (RDL). Integra o Grupo de Pesquisa Direito, Pragmatismo(s) e Filosofia (UERJ) e a Rede de Laboratórios Moitará (UFRJ). Coordena o Grupo de Pesquisa Direito, Filosofia e Artes (DFA-UNISUAM). Integra o Projeto de Extensão Escola Livre de Direito, Arte e Filosofia, criado em 2023.
Mariana Fernandes de Cintra Egger
Doutoranda e Mestre em Teoria e Filosofia do Direito pelo Programa de Pós-Graduação em Direito na Faculdade de Direito da Universidade do Estado do Rio de Janeiro. Especialista em Direito Público pela Escola Superior de Advocacia Pública do Estado do Rio de Janeiro. Bacharel em Direito pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro. Pesquisadora do Grupo de Pesquisa Direito, Pragmatismos e Filosofia (UERJ/CNPq). Advogada e Assessora da Assessoria Jurídica da Fundação Teatro Municipal do Rio de Janeiro.
CHAMADA PARA AVALIADORES AD HOC